“Trumpamentos"
09-11-2016 19:01
Pensamentos em torno de Donald Trump
O trocadilho do título é na realidade um escape pseudo-humorístico para a dura realidade. Os americanos escolheram Trump – uma má escolha. Pior do que a outra? Hum, é ela por ela. A verdade é que tinham de escolher um mal de entre dois. Esse é o problema da falta de pluralismo do sistema americano.
Sabidos os resultados, estas eleições trazem para o debate uma série de questões que merecem reflexão. Uma delas é: como é que alguém como Donald Trump pode recolher quase 48% das intenções de voto?
A resposta é preocupante porque não se confina apenas à realidade americana – Trump é o expoente do descontentamento com a política, é um outsider e a demonstração do desespero das pessoas com anos e anos de políticas ruinosas por parte de “políticos profissionais”. O voto no candidato republicano não vale pelas suas ideias mas pela afronta ao sistema.
Quem perde estas eleições não é Hillary, não são os Democratas mas o sistema político em si.
Não podemos censurar os americanos porque na verdade na Europa este voto de protesto sem ligar às ideias dos candidatos tem vindo a crescer. Com uma pequena diferença: enquanto Trump vai encarreirar (é uma opinião pessoal) e não pôr em prática algumas das atrocidades que propôs na campanha dado que na América há uma série de poderes cruzados que por vezes se sobrepõem ao presidencial, na Europa um partido extremista populista era bem capaz de conseguir implementar o seu programa, sobretudo se não tivessem isolados.
A culpa de termos necessidade de voltar a pôr o dedo na ferida, no dia em que se comemoram 27 anos da queda do muro de Berlim, é de pessoas como os Clintons que ajudam a que se associem palavras como a corrupção a uma atividade tão nobre como a política. No entanto, não se verifica apenas nos E.U.A., pelo que os “Trumps” têm tendência a proliferar por este lado do Atlântico. Assim como na Europa, onde há eleições para o ano e para o outro e para o outro. Por isso, a ameaça é mais europeia que americana.
Para inverter este rumo são precisas três coisas:
1) Vontade. Vontade política. O mais simples e mais difícil ao mesmo tempo.
2) Honestidade. É preciso deixar de lado a hipocrisia europeia que criticou Trump por idealizar um muro na fronteira com o México mas nem “piou” em relação ao muro inglês na Normandia, como se idealizar fosse pior que construir.
3) Humildade.É urgente que quem pode inverter o descontentamento dos cidadãos perceba a legitimidade dos povos para estarem revoltados e capazes de experimentar fórmulas explosivas.
Este processo precisa de acontecer rápido. Como se viu através de Trump, não há medo das pessoas em dar esse passo e votar nos anarcas do século XXI como Marine Le Pen.
A eleição de Trump tem essa hipotética vantagem: um alerta súbito para a Europa de que é preciso fazer algo. Clinton, não sendo melhor do que Trump, não lançava esse alerta.
Quando chegar por cá a hora de voltarmos às urnas, voltarão a existir os Clintons. Mas também, provavelmente, os Trumps alicerçados no descontentamento dos eleitores. Esperemos que nessa altura saibamos fazer as escolhas certas, senão, nesse caso, como diria o outro, estamos bem trumpados!