Será no quinto trimestre?-Parte II

25-11-2016 21:48

Será também interessante perceber como acabará o ano e como situará conclusivamente o crescimento económico no 4º trimestre do ano. Há quem aponte para 1,4%. Há quem preveja uma catástrofe. Mas alguns dos números parecem estáveis. Portanto, será para o 5º trimestre que cairá o Carmo e a Trindade? 
Se não for, muito bem. Estará provado que a devolução lenta dos rendimentos funciona e que se enquadra bem com o misto contínuo de aposta nas exportações, especialmente naquela parte técnica das exportações chamada turismo. Mas poder-se-ia provar muito mais. Se houvesse espaço para o diálogo, poder-se-ia provar que há espaço para pequenos acordos de medidas ligeiras, mas essenciais. Medidas nada sinuosas, como mudar um modelo económico inteiro, mas relevantes no ajustamento desse modelo, tornando-o mais eficaz. Nesse espaço poder-se-iam encontrar pontos comuns e acolher-se pontos divergentes para desenvolvimento de políticas públicas necessárias e essenciais para o desenvolvimento, não só económico, como societário e sociocultural. Afinal, foi no espaço de diálogo que foi possível dizer à esquerda que não podíamos romper de imediato com este modelo, e foi possível a esquerda dizer ao PS que podíamos romper com alguns detalhes e produzir efeitos positivos. O diálogo fechado não trás nada de bom. Se o diálogo for para dizer que não há alternativas, então ai é que é um diálogo altamente nefasto. Não aconselhável. O CDS também tem tentado dialogar, dizendo coisas que deviam ser valorizadas. Algumas são meras armadilhas. Coisas que a ser aplicadas teriam significativos impactos, e que, não sendo aceites, parecem ser recusas de coisas fundamentais. Já o PSD não quer dialogar. Pelo menos, parte dele. O diálogo é deveras importante. Se olharmos para a Europa séria, ou até para locais como Marrocos, reparamos que são as coligações que há muito dominam. É no processo de concordâncias e cedências que se criam as soluções e estas até resultam bem, materializando ideias que aparentam ser diferentes, que na verdade combinam e encaixam na perfeição. Quando debatemos os detalhes, parece que os pontos de encontro são muitos mais do que inicialmente se poderia prever. No caso de Marrocos, que acabo de citar, o diálogo criou uma estabilidade política e social que permitiu uma abertura do País ao exterior, atraindo investimento e transformando algumas das suas cidades em diversos sectores. Sendo de notar a economia, a produção energética e o turismo. Há mais casos. O Luxemburgo, que foi sempre governado por coligações, é um exemplo de desenvolvimento extraordinário. Transportes públicos altamente desenvolvidos, eficazes e eficientes, administrados diretamente pelo governo (e não, as coligações não conhecem comunistas), uma industria construtora que trás dignidade aos seus trabalhadores, ou um conjunto variado de serviços básicos, tecnológicos ou fundamentais completamente acessíveis e eficazes. Quando esse diálogo suceder em Portugal, talvez cresçamos muito mais do que o que crescemos este trimestre e que cresceremos este ano. A oposição diz que o crescimento é razoável mas que é preciso mais. Aponta falhas aqui, por achar que é insustentável e pouco viável depender de certos factores, e ali, por dizer ser insuficiente a abordagem em diversas temáticas. Porventura, até têm razão. Deviam conversar. Talvez descobrissem o quanto têm em comum. Mas sejamos honestos. Quando o que há em comum é o desejo de poder, não há conversa possível. Seria necessário que outros valores se levantassem. Valores esse que na esquerda se levantaram. Não quero com isto dizer que na Direita não os há. Seguramente que haverá. No entanto, é preciso descobrirem-se uns aos outros e perceberem que podem fazer melhor, passar das picardias estúpidas e fúteis, apenas servas de uma política de espectáculo, que alimenta os média e que precisam de um conflito permanente para as suas receitas. Quem compraria um jornal ou leria uma notícia onde não houvesse essa guerra partidária? Enfim. Talvez, no futuro, essa conversa possa acontecer. Poderemos ter um crescimento de 5%, ou algo que nos permita satisfazer os grandes desafios do desemprego e criação de emprego, com qualidade e dignidade. Crescimento esse que seria capaz de efectivar uma distribuição de riqueza meritória e dignificante, sem descurar as necessidades de acumulação de riqueza dos privados, necessária na criação de reservas para investimento, alimentando o aforro e consequentemente o crédito para que tenhamos um maior investimento interno e sustentável e uma banca saudável. Assim, seria possível uma colecta de impostos justa para fortalecer os serviços públicos indispensáveis com qualidade merecida, sem cativações ou défices excessivos a fornecedores ou sem exigir demasiado aos funcionários públicos ou retirar das pensões de quem trabalhou toda uma vida. Poderemos voltar a ter uma classe média forte e qualificada, que poderá trabalhar as horas necessárias para serem produtivos para as suas empresas sem descurar o tempo para a família. Poderemos ter soluções para os vários desafios das famílias, como a maternidade ou a paternidade. Ou tantas outras coisas. Tudo isto precisa de diálogo, além da gritaria do défice e do orçamento e do modelo económico, que nada mais é que uma expressão de uma ideia política, partidária e ideológica, não uma reflexão séria sobre o que são os defeitos transversais da economia.
 Na Alemanha há um certo modelo económico, que é complementado por soluções focalizadas emanadas de ideias das várias secções do SPD ou da CDU/CSU. Estes partidos apresentam claras diferenças. A surpresa? É que com dialogo a sua governação resulta. Há uma casar de coisas que veríamos no socialismo e no capitalismo. Além de várias micro-diferenças que se complementam. Como podemos ver, o diálogo é importante. Para quando será? Bem, talvez seja no quinto trimestre. Aguardemos, entretanto.
 

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