Será no quinto trimestre?

21-11-2016 21:14

 

Chegados ao terceiro trimestre, a economia parece estar a crescer a um bom ritmo, tendo em conta aquilo que era esperado. Cresceu 0,8% em cadeia e no conjunto, em termos homólogos, cresceu 1,6%.

A estratégia económica, baseada numa maior incerteza que a anterior, parece estar a dar resultados. Mas, os resultados líquidos devem ser explorados para que percebamos o que realmente significam estes números em bruto.

Quando o fazemos, surgem necessárias críticas. Necessárias, isto porque é preciso ir sempre mais além e é necessário observar o que as análises simplistas, título de jornal, não conseguem propor aos olhos dos seus leitores, mistificando por vezes, iludindo noutras. É preciso fazer justiça ao trabalho realizado, às apostas realizadas. Se é para fazer justiça, será de realçar que o crescimento do PIB se deve não somente a um modelo ou outro. Em virtude da verdade, parece que o turismo, no campo das exportações, contribui em grande medida para o acelerar económico, mas, não só. O consumo interno também aumentou, sobretudo de bens não-duradouros, o que significa que o aumento dos rendimentos, ainda que modesto, teve aqui a sua expressão. Se ao início do ano, a estratégia parecia não resultar, parece que a timidez sentida no consumo interno, por vários anos de repressão baseada na austeridade, estão a reverter. Não basta devolver rendimentos, é necessário incentivar politicamente o consumo.

A verdade é que o endividamento privado, ligado muitas vezes a um consumo descontrolado de bens duradouros, parece ter-se mantido estável. A comunicação dos agentes políticos rendeu-lhes estes números. Ainda assim, as exportações não foram desvirtuadas. Parece haver um entendimento do que algumas coisas anteriormente desenvolvidas funcionam bem e que por isso devem ser continuadas.

Por certo, a pressão do Presidente da Republica não será alheia. Por várias vezes, em público, Marcelo lembrou-nos de que não se podia excluir as exportações, especialmente o turismo, das apostas dos responsáveis governativos. Lembrou-nos, ainda assim, que o consumo interno é importante, e que por isso, devolver rendimentos é um factor condicionante dessa estratégia. Não será, todavia, por ser o Presidente da Republica a afirmá-lo que estará certo. O Presidente, tem bom senso e percebe o que diz.

Veja-se bem. Se tudo o que produzimos é exportado, para ampliar o crescimento económico e porque o nosso mercado interno não tem capacidade de absorver os nossos produtos, como consumiremos? Teremos de importar e endividar a nossa balança comercial. Mas essas importações acontecem tão somente porque os nossos produtos no estrangeiro podem ser vendidos a um preço muito maior, rendendo maiores lucros aos nossos empresários e um maior crescimento económico. Daí que se perceba as reivindicações de alguns sectores para reforçar-se a produção nacional. Os produtos que importamos são mais baratos, porque as economias que exportam para cá são constituídas por grandes corporações com grande produtividade, com automações e tecnologias associadas aos seus processos produtivos muito mais desenvolvidas, ou por empregarem profissionais altamente qualificados, ou por anos e anos de experiência não só empresarial, mas corporativa, isto é, anos com experiência a gerir grandes aglomerados empresariais capazes de gerir grandes stocks de produto e processos altamente eficientes. Por isso, altamente competitivas.

 

Estes factores configuram vários aspectos de política microeconómica, muito ausente do discurso político, demasiado focado em questões macroeconómicas.

 

Há uns meses, a quando das sanções, que não se concretizaram, o Ministro das Finanças Espanhol criticou as finanças portuguesas, o que resultou numa resposta forte do Primeiro-ministro de Portugal, António Costa. Patriotismos à parte, há alguma razão no que ele (o MF Espanhol) dizia. E os estudos económicos falam todos do mesmo, mas os políticos parecem não querer ouvir. Se calhar porque estamos todos um pouco ocupados a dizer o quão diferente os outros são de nós e a tentar provar o quão melhores somos que os outros, em vez de partilharmos o que sabemos e trabalharmos juntos para melhorar o País, elevando a Nação portuguesa.

O Bloco de vez em quando diz coisas interessantes. O próprio PCP, quando fala na produção e não entra em derivas Estalinistas, até parece acrescentar coisas interessantes para a economia. É por vezes engraçado perceber que algumas das soluções dessa tal esquerda extremista até fazem sentido quando pragmatizada em termos autárquicos, onde não basta orientar politicamente, é preciso agir com os instrumentos muito práticos que as autarquias têm à sua disposição. Desde políticas públicas que levam à instalação de grande empresas de renome, como a Coca-Cola, ao ser instalada na margem sul ou outros anónimos de produção, armazenagem e distribuição que criam os tais empregos da economia real. Lembro o caso de Loures, repleto de empresas ou de São Domingos de Rana, repleto de emprego para os territórios envolventes, e importante reduto empresarial muito variado.

Será também interessante perceber como acabará o ano e como situará conclusivamente o crescimento económico no 4º trimestre do ano. Há quem aponte para 1,4%. Há quem preveja uma catástrofe. Mas alguns dos números parecem estáveis. Portanto, será para o 5º trimestre que cairá o Carmo e a Trindade?

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