Ser aluno de intercâmbio nos EUA

31-10-2016 20:20

Acabei de chegar de Chicago e a cidade estava ao rubro, pois a equipa de baseball local, os Chicago Cubs estão a disputar a World Series pela primeira vez em 71 anos e não vencem há 108 anos. Enquanto estava a caminhar por entre os arranha-céus e pelas lojas luminosas da Michigan Avenue, pensava no que haveria de partilhar convosco neste dia e achei que seria positivo dar-vos a conhecer a razão pela qual aqui estou, no outro lado do mundo, no Norte dos Estados Unidos da América, no estado do Illinois.

O AFS (American Field Service) e uma organização dedicada a estudantes de intercâmbio, sem fins lucrativos, que atua em 55 países em todo o mundo e que existe desde a Primeira Guerra Mundial.  A primeira vez que ouvi falar do AFS estava eu no 7º ano e foi através de um amigo do meu pai, cujo filho estava a estudar nos EUA através deste programa. Eu, como qualquer miúdo de 12 anos, fiquei entusiasmadíssimo com a ideia de ir viver para o meio de Nova Iorque, como via nos filmes. Os anos foram passando e eu continuava expectante, mesmo tendo descoberto entretanto que a probabilidade de ir viver para o centro de Nova Iorque era quase negativa, mas mesmo assim queria descobrir este país e a sua cultura, que e bastante mais diferente da nossa do que eu pensava. No ano passado, no mês de Agosto, telefonei para a AFS e iniciei a minha inscrição para frequentar o programa no ano seguinte. Fui aprovado e participei no primeiro campo de orientação, onde estavamos cerca de 50 estudantes de todo o país e onde conheci pessoas que considero hoje grandes amigas. Escrevi num papel os três paises que eu preferia fazer o programa e, meses depois, confirmaram me que tinha sido aceite pela AFS-USA para ir estudar para os EUA durante um ano, como estudante de intercâmbio. A partida não foi nada fácil, mas entre lágrimas e sorrisos (mais lagrimas que sorrisos), embarquei no dia 8 de Setembro, pelas 4 da manhã, num avião que iria para Amesterdão e, a seguir, aterraria no enorme aeroporto de Chicago, cerca de 16 horas depois. Os voluntários que me esperavam, em conjunto com umas poucas dezenas de estudantes de todos os cantos do mundo, dirigiram-me para um hotel onde esperaria pela minha família de acolhimento. A noite chegou e conheci a minha host mom e o meu host brother, Marcus, que veio da Noruega no mesmo dia e seria o meu único irmão durante o ano. Entrei no carro com o coração aos saltos e comecei a aperceber-me que era muito menos fluente em inglês do que pensava, pois tinha que recomeçar frase após frase. A viagem noturna de pouco mais de uma hora levou-me a uma pequena cidade chamada Harvard, com cerca de 9000 habitantes, no norte do Illinois e a cerca de 10km da fronteira com o Wisconsin, pouco antes do Canadá. Tudo era diferente e eu sentia-me quase que raptado e levado para o meio do campo no meio de um país desconhecido, por pessoas que também desconhecia. Harvard tem pouco mais que meia dúzia de casas, uns restaurantes de fast-food e uma estação de comboio, que vai diretamente a Chicago, numa viagem de 2 horas. No primeiro dia de escola, fui observado por todos os alunos curiosos que passavam por mim e sussurravam “Who’s that guy? Is he new?”. Foi um desafio ter que me intrometer em conversas e mesas de almoço, com pessoas que nunca tinha visto, mas ser um estudante de intercâmbio e sempre uma boa ajuda no que toca a meter conversa. A maior parte das pessoas desta escola achava que Portugal era na América do Sul e alguns ate na Ásia. A dica que me deram para fazer amigos foi inscrever-me em clubes, bandas ou desportos e, depois de pensar, fui conhecer o treinador do desporto mais americano que há, o futebol americano, que aceitou ter-me na equipa. Os treinos eram intensos, cerca de três horas por dia, seis dias por semana, com jogo todas as sextas a noite, que duravam até às 23h, incluindo ginásio e treinos as 8 da manhã. A sensação de entrar em campo numa sexta a noite, perante toda a escola nas bancadas e indescritível. Viver aqui e tal e qual como nos filmes, em quase todos os aspetos. Também o sistema educativo americano e diferente do português. Os alunos escolhem entre muitas disciplinas e não têm uma turma, rodando de sala, aula após aula. Não há intervalos e a hora de almoço dura meia hora. As disciplinas não são mais difíceis de maneira nenhuma e os testes são mais fáceis. No entanto, os testes têm menos peso que em Portugal e os trabalhos e projetos, quase diários, são extensos e têm um peso considerável na nota. Isto leva-me a crer que este é um sistema educativo menos focado na “inteligência” e na capacidade de raciocínio e bastante mais focado no trabalho e no esforço.

No geral, apesar de algumas dificuldades óbvias, esta experiência e muito positiva e está a fazer-me crescer como pessoa em todos os aspetos. Recomendo este programa a todos vocês que ainda estão na escola e querem conhecer o mundo lá fora e testar-vos a vos próprios e evoluir como pessoa, pois garanto-vos que voltarão mais completos, independentes e confiantes. Escolhi escrever este artigo pois as inscrições para o próximo ano acabam dia 7 de Novembro, daqui a uma semana, e alguns de vocês nunca ouviram falar deste programa. Além dos EUA, há 23 outros destinos possíveis, em todo o mundo, e podem fazer o programa anual ou trimestral. A AFS provem também bolsas de estudo para alunos de mérito. Arrisca e embarca no melhor ano da tua vida!


Rodrigo Duarte Silva,
Harvard, Illinois

Voltar

Contactos

A voz dos Jovens