Populismo - Será 5 estrelas?

28-11-2016 18:43

            

Dialogar com o tempo e com o espaço, lendo os sinais que o mundo nos transmite nas suas entrelinhas, é um dom. E é, mormente, um dom que não está ao alcance dos que ignoram o mundo e o contexto que nos envolve - sobretudo no constante e irremediável devir que pauta a nossa época, com acontecimentos e eventos que se processam a um ritmo vertiginoso, complexificando esta leitura. Por isso, importa perguntar: que sinais podemos ler?

            Após a vitória dos que apologizavam a saída do Reino Unido da União Europeia e a vitória de Donald Trump nas presidenciais norte-americanas, o ano de 2016 não terminará, a nível europeu, sem outras duas decisões de incontornável relevo: no dia 4 de dezembro, domingo, votar-se-ão as eleições presidenciais austríacas (repetindo o sufrágio de maio, anulado por irregularidades na contagem dos votos) e o referendo italiano a uma alteração constitucional - que está na génese desta reflexão.

            À primeira vista, o referendo italiano à ‘Lei Boschi’ (devido ao nome da Ministra responsável pela reforma constitucional, Maria Elena Boschi), sobre a qual os eleitores italianos se pronunciarão, parece incapaz de causar grande impacto. Em traços gerais, esta lei pretende alterar o sistema político italiano, no sentido da desburocratização e do fim do bicameralismo e sobreposição de competências - a intenção de Matteo Renzi, primeiro-ministro italiano, é que esta lei permita uma melhor governabilidade. Onde está, portanto, o busílis da questão relativamente a este referendo? Que elemento é capaz de o tornar tão importante? A resposta encontra-se no próprio Renzi e nas suas afirmações: “Se tiver de ficar no parlamento e fazer aquilo que toda a gente fez, antes de mim, que é arrastar-me e pairar por ali, isso não serve para mim”. Erro crasso: Renzi alterou todo o objeto de voto do referendo, transformando-o numa votação à sua governação. E as últimas sondagens (por parte da Rai3, do La Repubblica, do La Stampa e do Corriere dela Sera) apontam unanimemente para a rejeição da alteração constitucional - e a diferença entre a vitória do ‘não’ e a derrota do ‘sim’ nunca é inferior a 5%.

            Caso se demita, como prometeu, a realização de eleições antecipadas poderá significar a chegada do Movimento Cinco Estrelas (M5S, de Beppe Grillo) ao poder. Significará, portanto, mais um triunfo do euroceticismo - o M5S, apesar de não se definir num quadrante ideológico, inclui-se na bancada europeia da Europa da Liberdade e da Democracia Direta (onde estão, por exemplo, a Alternativa para a Alemanha e o UKIP) e tem como ‘bandeira’ a realização de um referendo à moeda única. Significará, portanto, mais um triunfo do populismo. E um eventual triunfo do populismo é, sobretudo e precisamente, algo que merece, cada vez mais, a nossa atenção.

            Ainda que cada país tenha o seu próprio contexto social, económico, político ou histórico e que os movimentos populistas se apresentem com diferentes características, podem-se traçar algumas linhas gerais acerca do crescente sucesso destes: a perceção que os cidadãos têm das elites políticas, olhando-as como idênticas - pelo que a diferença é realçada e apelativa (e a imagem dos líderes destes movimentos não passa despercebida - pensemos, precisamente, em Beppe Grillo); a linguagem excessivamente tecnicista que é utilizada no meio político, gerando incompreensão e, consequentemente, alheamento por parte dos cidadãos - o discurso populista usa uma linguagem simples, demagógica e vai ao encontro da ‘volonté general’; a ideia de que os governos nacionais são impotentes, perante a crescente transferência de poderes para organismos supranacionais (tais como a UE  ou o FMI) - estes movimentos são muito marcados pela mensagem anti-globalização e, no caso europeu, pelo euroceticismo.

            Mais do que responder à emergência destes movimentos, a resposta deve procurar resolver as situações para as quais a democracia se tem revelado incapaz e cansada. Inevitavelmente, urge uma necessidade de crescente envolvimento dos cidadãos na política (a começar, desde logo, pelos jovens e pelo poder local). Como? Que outras elucubrações lhe respondam.

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