O Brasil não é para principiantes
08-10-2016 22:05
Tenho família no Brasil, no Niteroi, Rio de Janeiro (que para quem não sabe é só um dos pontos mais desenvolvidos do Brasil inteiro, o mais desenvolvido do Rio e com classificação reconhecida pela ONU, no meio de tanta "falta de desenvolvimento desnecessário", sendo também o segundo local com maior PIB per capita do Brasil). A minha querida mãe vem de lá. Por essa razão, sei como funciona o Brasil. Sendo que a minha mãe ainda sabe melhor que eu. Ela nasceu em plena ditadura, em 1972 o Brasil ainda era governado por Militares e os "Homens das Terras". Antes dela, já a minha família brasileira lá vivia. Apesar de viverem também noutros pontos do Brasil, conhecendo aquele imenso "continente".
Não costumo falar de mim ou da minha família, mas falar do Brasil é falar de mim.
Agora, o Verão acabou. Os jogos olímpicos do Rio de Janeiro, que já são coisa do passado, também findaram. Formidavelmente findaram, é preciso que se diga. Longe do que se concebia poder vir a ser desastroso, tamanha era a fúria dos populares, pelo descaramento da política e dos seus políticos em tanto gastar (desnecessariamente e sem propósito) quando, no Brasil, por esse imenso "continente", havia e há ainda tantos desafios a confrontar e a resolver.
Talvez o que não tenha corrido tão bem, contrastando com a alegria e o entusiasmo tipicamente sentidos no espírito olímpico, foi o vaiar do Maracanã inteira ao Presidente (ou não) Michel Temer. Este incidente lembra-me que, em paralelo com Portugal, como dizia Pessoa, " Senhor, cumpriu-se o Império, falta cumprir-se Portugal". O Brasil, Senhor, também está por cumprir. E senhores e senhoras, acreditem que o "continente" brasileiro tem um grande potencial, e muito por fazer ainda. Mas quando? E, melhor, com quem? A verdade que o mediatismo não diz, é que os senhores e senhoras desse Brasil não são políticos, nem são principiantes. Com eles, o Brasil não se cumprirá.
Enfim.
O Brasil não é para principiantes, dizia-se e ainda hoje se diz. Nunca o foi e nunca o será.
A minha família no Brasil (e digo estas coisas com muita pena) já viu muito acontecer. A minha querida mãe já viu muito acontecer e acontecer-lhe. Antes de fugir, - e sim, repito, fugir-, de lá, a minha mãe viu e presenciou o que se faz a quem quer ter mais do que aquilo a que lhe é " reservado". Se em Portugal se fala em inveja e na Índia de castas, no Brasil pode-se falar de castas baseadas na inveja ao próximo (e estou à vontade para falar disto). Se cá, o que se constrói é olhado com cobiça presunçosa, lá a cobiça não se limita a olhar para o que humildemente fazes. O conservador não meramente conserva o que é seu. Quer o que é teu.
(In)Felizmente, desde o meu trisavô (um emigrante do Minho que vagou para lá há quase 200 anos), a família de lá sempre soube ter muitos olhos nas costas e na cara. Sempre souberam ter vergonha e humildade e souberam proteger o que tinham. O que de mais valioso tinham eram os postos de trabalho que criaram com as empresas e sociedades que lá fizeram, eram os sorrisos dos filhos dos empregados que tinham os cuidados essências em tempos onde nada disso era garantido (e continua em vários casos a não ser), era o sorriso da população que os conheciam (e os temiam - sim, porque para estas coisas todas não se podia ser principiante!).
O meu avô soube fazer o mesmo. Para ele, a ninguém, pobre ou rico faltava o que comer. Mas por pensar assim teve rixas, algumas com militares. Só que o meu avô também cometeu algumas brutalidades (afinal, e novamente, não se pode ser principiante!). A minha mãe descreve-o como alguém com estas ideais e princípios, mas depois como um Homem feroz, capaz de confrontar militares (afinal alguns irmãos dele também o eram, não tinha porque temer tanto, comia com eles por vezes, mas tinha-lhes repulsa). E fê-lo várias vezes. Fê-lo sobretudo quando quiseram obrigá-lo a casar a minha mãe, sua filha mais jovem de 9 anos, com um filho de um militar. Ele recusou-se. Houve represálias. Enfim, isto é o Brasil. Para quem duvida, é assim. O Brasil é de facto algo sem par.
Todavia, tenho muito orgulho em ter uma família rica no Brasil, não pela riqueza, mas por eles terem querido usa-la para fazer o que está certo. Tenho orgulho em terem sido sempre misericordiosos e terem olhado para os mais fracos. Tenho sobretudo orgulho da minha mãe, aquela brasileira de cor que soube virar costas ao Brasil há 20 anos atrás e rejeitou essa riqueza para viver uma vida humilde cá em Portugal.
O Brasil não é para principiantes, e infelizmente a Dilma é, como a minha mãe, uma principiante. Pôs-se a jeito e não soube jogar no tabuleiro. Lula sabia e ainda sabe jogar. O seu consulado foi do melhor que podia haver para essa terra tão bonita, mas tão perigosa. Dilma não. Tal como enfatiza o meu avô, é preciso ser ruim mesmo quando se joga o House of Cards Brasileiro.
Não sou apoiante do PT ou dessas duas figuras, nem a minha mãe ou a minha família o são. Mas uma coisa é certa, todos temos pena do PT e dos Brasileiros, porque por terem sido principiantes não souberam proteger o que de mais importante tinham: o povo brasileiro e o seu progresso.
Ordem e Progresso é o lema do Brasil.
Progresso até houve e muito, ainda insuficiente, claro. Faltou foi a ordem. Faltou a força para saber combater esta elite, que não é de Direita nem de Esquerda, é antes uma Elite de más intenções, fundada numa casta baseada na inveja e na violência, na imoralidade e na indecência. Esta elite é a que separou Portugal do Brasil da pior forma (porque nos separámos de outras colónias mas mantivemos relações, com o Brasil nem por isso), é também a que queria reaver a escravatura, é a que implantou 2 ditaduras e outras a nível Estadual, é a que fundou a República que não o é (e que só serve para roubar os recursos) e é a que não se abre ao mundo e que odeia os mais fracos. A que conserva, não dá e ainda tira.
Impeachment? Não sei. Mas que seja. O que sei é que ao Brasil e suas gentes tudo, a esta escória nada, mesmo nada! Os que não defendem o Impeachment, camaradas socialistas, não colem o socialismo nisto. De nada serve, se não para que nesse mundo fora se legitime o que está a acontecer, que é mais que uma destituição. É pura ganância desta escória, por dinheiro e poder, fundada na inveja e nas más intenções, com que a minha querida mãe olhou nos olhos, com que conviveu, sofreu e até quase casou. Os que defendem o processo de destituição, nomeadamente a Direita portuguesa, defendam o impeachment à vontade, com todo o rigor e coerência que este merece, mas que isso não vos cegue para o realmente se passa e pode vir a passar a seguir. Que não esqueça ninguém, à Direita ou à Esquerda, que falta cumprir o Brasil. E libertar das dificuldades decadentes os que não puderam ter outra sorte.
Faltou mesmo a ordem.
E infelizmente, a Dilma foi uma principiante.