Faleceu Mário Soares, o Mário Soares.
08-01-2017 21:34
Ainda na sexta-feira, discursando, fazia uma homenagem aos novos militantes num restaurante em Alcabideche, freguesia de Cascais onde sou militante socialista. Dei, nesse dia, as boas vindas aos novos. Agradeci aos mais antigos pelos momentos, pela experiência, pela sabedoria partilhada, pela amizade e pelas pessoas que são. Mário Soares é um desses antigos , graças a ele, estes outros, tantos e diferentes, no seio do Partido Socialista, e também no seio dos outros Partidos, podem ensinar que a política vale a pena e que só é derrotado quem desiste de lutar.
Um obrigado a Mário Soares.
A Mário Soares temos de agradecer bastante. Ou pouco, depende da medida de cada um. Ele representava e representou coisas diferentes para cada um. Mas agradeçamos na mesma. Agradeçamos por podermos viver em democracia. E também por esta poder ser respeitada, na sua vislumbre pluralidade. Não há ideia única que oprima as outras. Nem ditaduras, nem escravaturas.
A Mário Soares temos de agradecer, em parte, o fim da ditadura corporativista de Direita e Conservadora, agregadora de tantos diferentes, apenas pelo o fim de instrumentalizar suas diversas ideias em prol de um regime de amarras e correntes, não respeitador dos Direitos do Homem, das liberdades, da pessoa humana.
A Mário Soares temos de agradecer, em parte, o combate àqueles muitos comunistas que queriam um Portugal vermelho e soviético, obediente, não a si mesmo, mas a Moscovo. Esses comunistas não queriam nem souberam respeitar as regras e a ordem, não souberam o significado da palavra democracia. Mário Soares soube sempre, e disse-o a Cunhal na RTP há muitos anos.
Soares é isto e muito mais e tudo o que se escreva e diga será sempre insuficiente.
Há na construção da democracia outros autores, outros tantos, outros até mais adorados e pouco odiados como Soares. Quem se lembra deles? De Soares, Primeiro-Ministro em 3 ocasiões, Ministro dos Negócios Estrangeiros, Presidente da Républica, o timoreiro de um Partido Socialista pilar na democracia, que se aliou à Direita e à Esquerda, responsável por muitas das transformações positivas e negativas no país; de Soares, o Homem carinhoso e charmoso, que tinha estilo, o Político que era fixe e que não dava 2 sem 3; de Soares, o esdrúxulo polémico de tom grave mas carismático, odiado e amado, o que discursava por si, sem que lhe escrevessem textos ou houvessem telepontos, o que ao discursar enchia praças e arenas e que gritava todas as maldades possíveis e eficazes; de Soares, o que derrotou a Direita, que se aliou com ela, que permitiu o primeiro acordo de Esquerdas na capital e que ajudou a derrubar Seguro para que Costa subisse ao palco. A bem ou a mal, deste, todos se lembraram.
O Presidente viu um país atrasado chegar ao que é hoje. Viveu bastante e suficiente. 92 anos não são brincadeira. Viajou por meio mundo e falou com outra metade de políticos e gentes de alto gabarito. Mostrou-lhes que Portugal poderia ser diferente. Melhor. Era uma injustiça estarmos distantes do resto do mundo e não podermos acompanhar o seu ritmo de desenvolvimento económico e social. Havia muito por fazer.
Soares trouxe-nos para a Europa. Antes disso evitou uma ditadura militar e uma ditadura de Esquerda Comunista. Soares fez muito mais. Protagonizou com outros momentos marcantes e insólitos que ficaram na história. Mas é inegável, sem dúvidas, que Soares ficará para sempre na história como um dos grandes.
Os americanos ainda se lembram de Washington, de Benjamim Franklin, de Thomas Jefferson, Adams ou Hamilton.
Nós, por cá, daqui a muitos anos, livres e em democracia, felizes ou não com o que temos teremos na lembrança o nome Mário Soares.
Que descanse em paz.
Da autoria de Daniel Romão