Diário de Viagem

10-10-2016 17:19

Corta-me a respiração a diferença entre o mundo em que estive nos últimos tempos e o mundo onde o meu corpo nasceu, cresceu e viveu… É nesse mundo que reflito e sinto a consciência quase pesada de ter voltado e continuado a minha vida sabendo que no fundo não mudei nada. Pensei que ia tremer a terra, mas não fiz tremer terra nenhuma.

Apesar de ter sentido e estado naquela realidade, eu sabia que no final de tudo, ia voltar. Voltar para a minha zona de conforto, voltar para a minha mãe, voltar para aquele mundo onde todas as minhas necessidades básicas estão satisfeitas. Voltar para a minha vida stressada, para o meu mundo sem tempo, voltar... eu sabia que ia voltar. Para te contextualizar algo que só mesmo vivido, decidi contar a história da Faith, a corajosa Faith. Nunca cheguei a saber o apelido dela, mas quando nos despedimos a Faith chorou como se eu não voltasse mais e abraçou-me como se quisesse que eu voltasse sempre.

Querida Faith. Apenas 20 anos. Exatamente a mesma idade que eu, mas com muito mais peso nos ombros do que alguma vez vi alguém a ter no meu mundo. Com a obrigação de cuidar dos seus 7 irmãos, teve de arranjar um trabalho como cozinheira numa escola, a ganhar 4.000 shillings por mês, o que equivale a 40 euros. A sua mãe tem outros interesses que não são os seus filhos. A Faith cedo, teve que dar a sua vida em troca da sobrevivência dos seus irmãos. O sonho da Faith é ser engenheira electrotécnica, adora matemática e quando pode dá aulas de matemática aos meninos, sem os professores notarem.

Eu, que tantas vezes me senti injustiçada, tantas vezes me senti infeliz, tantas vezes dava tudo para desaparecer daqui, dali. Foram tantas as vezes que não queria estudar, tantas as vezes que me passava da marmita porque os meus pais me pressionavam, porque os meus pais queriam saber….Tantas as vezes que fui triste, não só no sentimento mas também na ação. A Faith no último dia abriu-me a alma. No meu último dia, a minha amiga Faith abraçou-me como se quisesse que eu voltasse sempre e chorou como se eu não voltasse mais, com as lágrimas nos olhos. Quase desesperadamente a Faith sussurrou-me ao ouvido a sinal de pedido que a levasse para Portugal. Queria estudar, queria aprender, queria ter com todo o direito as mesmas oportunidades que eu.

A viagem ao continente Africano foi o mais intenso e construtivo que fiz na vida mas o mundo ainda tem muito para explorar. No próximo mês de Novembro viajo para a Jordânia em busca de uma experiência no Médio Oriente. Em busca de uma experiência ainda mais intensa e construtiva.

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